Cai a chuva em silêncio e ininterruptamente
Percorro a calçada que me conduz serenamente à tua porta
Olho para o céu. O semblante cinza combina com a minha alma
Instintivamente, enfio as mãos geladas no bolsos
A tua porta é ao fundo da rua estreita e velha
Aconchego-me no casaco, numa tentativa de me aquecer ou esconder, não sei…
Vou observando as gotas tocarem no chão dividindo-se em mil salpicos
Antes de se unirem e formarem uma poça de água, que faço questão de pisar
Espero que estejas à janela. A minha viagem não teria sido em vão
Sinto o vento sussurrar-me ao ouvido… quer que eu volte para trás
Ninguém se atreve a deixar a lareira quente e acolhedora
A minha volta tudo é silêncio. Apenas o fumo próprio que sai das chaminés e alguns carros apressados completam a paisagem onde me encontro
Será que me reconheces?
Dou um pontapé numa pedra e vejo rolar uns metros.
Tem folhas amarelas e castanhas na sarjeta. Belas. Parecem colocadas de foma estratégia por foma a embelezar tão feia rua.
Finalmente a Porta. Não é uma qualquer é a tua. É larga e gasta
A tua casa encaixa-se na perfeição. É gémea de todas as outras desta rua deprimente.
Na tua janela vejo um brilho forte, que me cega. Tento ver melhor, colocando a mão a fingir de pala, obrigando-me a elevar a face.
Penso que o vulto alto e corpulento que tanto brilha, sejas tu. És tu. Eu sinto-te
Pela face, escorrem gotas de chuva. Muitas. Misturadas com as minhas, numa luta desenfreada, para ver qual delas caí primeiro...
Olho para o chão. Medito, enquanto a chuva insiste em tentar tocar-me a pele.
Olho para ti, novamente.
E sigo em frente. Sigo na direcção da minha vida. A procura da felicidade, impõe-se!
Agora, pela minha face escorrem lágrimas, que me molham o sorriso.
Penso em mim. Finalmente.
Já não vivo por ti. Para ti.